domingo, 7 de agosto de 2011

PROFETAS TÊM CABELOS BRANCOS




Anda por mundo branco, nem sombra há. Sombras são escuras e escuro não há. Árvores brancas com seus brancos galhos não se silhuetam no ocaso branco.
Lembra vagamente de pessoas. Houveram antes que esta nuvem sem embaço cobrisse o sol, o mal e quaisquer outras vidas, reais ou sonhadas.
É fácil e trágico caminhar sem passado neste branco que deveria ser luz e não é. Talvez seja um sumidouro, boca-de-lobo sugando a espuma de detergentes nitrogenados que escorregam plasticamente sobre as águas do Tietê. Pelo lado bom encobre o que foi um dia água e agora é algo que não se sabe o que é. Sob essa massa gelatinosa e fétida está o vagido de um menino de rua que nunca pode deixar de ser neném, não deu tempo, antes apodreceram os ouvidos.
Começa a rir à bandeiras despregadas ou pregadas em mastros brancos tremulando paz lá em cima, inatingível ou no chão, uma vez despregadas e caídas. Paz um dia houve? Alguns, ou muitos, ou todos, homens com estandartes vermelhos, amarelos, azuis ou todas cores em um só, divisória armada até os dentes contra tudo, ou Deus, podia ser a favor, pelo menos uma melodramática mentira de pregar a decência, o perdão, alforria ou prisão. Qualquer coisa serviria para flamejar a beleza dos estandartes coloridos sob o céu para dizer por que lado se morria.
Procura em herói solitário. Como? Apenas ele é. Resolve lavar o mundo encardido, fundo de panela grudado de gordura Mac Donald’s com sabão a fazer espuma que água nenhuma enxágua. Arranca a ponta dos dedos na tentativa até perceber que os seus não bastam precisariam todos que já tivessem vividos.
De dentro de um buraco com os olhos à superfície veria horizontes por todos os lados, assustadores 360º de nada. Um pensamento branco sussurrou que algo haveria depois, ou antes deles. Estava cansado, caíra neste limbo branco num sonho, era assim que acontecera, tão logo despertasse se reconheceria num sonho colorido.
No tempo que o tempo era, as pálpebras descidas ainda assim traziam algo em torno de claro e escuro, com flashs eventuais, até mesmo moscas luminosas passeavam trazendo notícias de brilhos. Talvez suas pálpebras tivessem caído na lata de leite condensado e não conseguissem se abrir, pesadas e inúteis, viera a noite sem lua e não havia possibilidade de outra coisa atravessar a firme e branca parede açucarada.
No antes do horizonte percebe movimentos em câmera lenta, ou seria apenas um teatro de sombras brancas? Parece que sim e guerras campesinas, campeiras, urbanas, corpo a corpo, teleguiadas mostravam suas esqueléticas sombras. Nem o sangue jorrado aos borbotões era vermelho, já esgotara o carmim dor.
Entre pausas de homens degolados caminha o profeta. Os longos cabelos brancos ao vento sem cor, anuncia novos tempos de fraternidade. Quando terão cabelos ruivos, ou verdes? Crêem tanto que cuidados esquecem e alguma discussão de alcova tórrida desenterra uma e outra e outra bela e sensual Helena por quem vale a pena lutar, morrer e matar.
As helenas se deitam na terra se transformando em estados, países, regiões, campos acres servindo ao mesmo mortal objetivo. Dominadora da arte da manha, manhã sempre vinda, se retraem em notas de dinheiro, muito mais valoroso que o mero papel que dizem não ser feito. Suas múltiplas formas retalham Osíris pelos campos alagadiços de nossos tantos Nilos. Em cada curva uma torneira de sangue e se luta por justa causa até que não sobre vontade de viver.
Petróleo, ouro, diamantes, sede, fome, todos os sobrenomes posteriores a primeira: Helena de Tróia. Tánatos se justificando para realizar à volta da vida, segundo visionários, o fim total de qualquer modo. Momento onde o homem, tomando na mão a foice, antecipa o trabalho para se igualar a um possível e desconhecido criador.
Dói o cotovelo, aperta o sapato no pé. Há algo sob o chão instável. Chama: alguém aí? Nenhuma resposta. É sobre cadáveres que caminha. Um gigantesco Museu do Holocausto, do homem para o homem.
Nunca chora? Por medo? Assombro? Solidão?
Intui que não está sozinho, apenas os mundos não se tocam, não compartilham, nem se abraçam. Nada, a distância é a salvação.
Está num deserto. É isso! Alucina. Cadê o Pequeno Príncipe e sua rosa? Cadê a raposa para responder que a jibóia tinha comido um elefante e chapéu é coisa para quem não sabe ver. Pelo menos uma vez a resposta certa. É essa a resposta? Esse branco sem fim? Armadilha.
O horizonte para trás não importa muito, logo tocará o da frente, haverá gente, vestígios de véus. Idade das Flores se avizinha, a Nova Era, é a hora e a vez de Aquário.
O branco é transição, tudo será paz e amor, maconhavam fugas os hippies felizes enquanto enterravam a pior arma, o dinheiro, em caixões de chumbo. Imagine, orava John Lenon: “Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único. Eu tenho a esperança de que um dia
você se juntará a nós e o mundo será como um só”.
Adeus necessidade de crack, oxi, haxixe, armas, bombas, governos, pele, roupa, insanidade! Não precisamos mais de vocês. Uma única religião, a dos homens, um único chão, a Terra. Prisões virarão estábulos onde vacas de ubres de torneira despejaram leite para todas as cores de fome. As favelas se tornaram belos condomínios de jardins horizontais. A nova rotação do planeta o porá na curva do clima ameno em todos os hemisférios e os ursos polares simplesmente tirarão seu casaco e os pinguins boiarão de barriga para cima em Búzios enquanto engolem raios de sol.
A revolução dos muros e das fechaduras farão com que se atirem das pontes numa água de PH 7.0, sorrindo para o futuro viveiro de peixes. Muito melhor destinos do que aprisionar homens em suas casamatas.
Se ouvia esbanjando para o horizonte além a alegria do sonho afinal possível. Era só atravessar o portal 11:11 e já ouvia a sinfonia das estrelas anãs.
Surgiram os 2 primeiros homens do horizonte tão próximo, preparou-se para comemorar:
“Distância de 40 passos, no sinal atirem ao mesmo tempo.”