domingo, 20 de janeiro de 2013

NO PRINCÍPIO...

E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. Gênesis 2:7 E da costela que o SENHOR Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. Gênesis 2:22 Adão ainda estava cabisbaixo pensando no mico pago, saindo daquele jeito “nu com a mão no bolso” do Paraíso chatinho, certinho. O anjo guardava na face de porcelana (por que será que todos os anjos tem face de porcelana sem nenhuma espinha, ou verruga? Depois dizem que o Pai não tem preferências!), um sorrisinho de escárnio feliz enquanto embainhava a espada maior do que a de Ricardo coração de leão. Lá por trás das asas se vangloriava: o que estavam pensando esses miseraveizinhos se imaginando donos do Éden e filhos preferidos de Deus? Tomem, papudos, vão cantar em outra freguesia e a maçã... Terão que vender na feira. Eva, emburrada, pensava que era fácil ser mandão e dá-lhes um pé na bunda com um espadão daqueles. Foi quando voou uma borboleta inconformada com a injustiça feita e se bandeou para o lado de Adão e Eva. Pela primeira vez a primeira mulher parou para ver as cores rutilantes das asas do inseto e se deu conta que poderia ter sido uma boa sair do som de harpas enjoativas se pusesse a imaginação a funcionar. Imediatamente sonhou luz neon, grifes fantásticas que brilhariam nas letras luminosas na fachada de shopping enormes onde poderia adquirir e, melhor ainda, vender, asas de todos os matizes para as mulheres que pariria às pencas se fosse abelha. O anjo voltou para o Paraíso e ficou meditando em como seria agora sem ter ninguém para dedo-durar, podia ter sido uma ruim emplacar aqueles dois branquelos. Não teria mais a quem pregar peças de bem e mal e a coisa paradisíaca tenderia a ficar muito chata. Em seguida questionou o Pai sobre por que os tinha feito branquelos se nem sequer era uma cor original, muito mais razoável tê-los feito negro ébano para suportar o calor que teriam a enfrentar. Talvez para o castigo ser maior ainda ou estaria já meio entediado e começava a criar a primeira confusão de racismo para quebrar a monotonia daqueles anjos saiúdos que nem sabiam dançar. Adão viu Eva se requebrando toda enquanto colhia flores (o Pai foi bonzinho e deixou este colorido escapar sorrateiro para dar uma forcinha aos filhos amados). Pois Eva colhia flores, ainda não tinha inventado o tecido e precisava de algo bonito e estético que cobrisse a perseguida para os muito meninos, rola para as carolas, buceta para os à toa e vagina para os intelectuais. Como ainda não tinha inventado nada para fazer e vendo Eva se divertindo (a mulher é sempre mais criativa, logo criou a diversão), olhou as nuvens do céu que também escapavam do Paraíso pela fresta que o anjo, ocupado com pensamentos pagãos de revanche satisfeita, deixara. O vento do lado de fora da temperatura sempre perfeita, era forte e empurrava as nuvens formando desenhos. Foi assim que Adão aprendeu a sonhar vendo as formas malucas desenhadas nos céus. Assim, quase sem querer, ou dado pelo Pai, segundo algumas teorias, que penalizado pelo severo castigo, deu um jeitinho bem brasileiro de facilitar as coisas. O Pai era a sabedoria sem idade e sobre todas as idades que viriam, portanto, logo de cara já foi inventando o gérmen que, depois de maduro, seria o Brasil. Adão perdeu a desesperança e acontecesse o que acontecesse, sempre começaria tudo outra vez. Fosse dilúvio, terremoto, vulcão, enchente, explosão atômica fabricada, fome de secar tripas, matança desgovernada, guerra ou guerrilha, Adão tentaria e tentaria e tentaria novamente. Até espetado numa cruz ele falaria em ressurreição. Eva, se maquiando sobre margens plácidas declarou convicta: Espera um pouquinho que te dou uma força, Adão. Mas pega leve senão me mando com algum Moisés, ou Efrain que vai nascer ainda. Adoro minha programação de homens “barriga tanquinho” e, mesmo podre de velha, ainda caço um Gianecchini lá pelos ainda não idos anos 2000. Sou mulher, posso qualquer coisa e fora do paraíso, posso mais ainda. A borboleta, percebendo a brecha na entrada do Éden, deu um assobio maroto e a bicharada escapou aos casais para o lado de cá que já era muito mais divertido e se poderia fornicar, fofocar e ir ao cinema mesmo que dando um duro danado. Muito tempo depois, quando os dinossauros já tinham perdido a vez há centenas de anos, nasceu uma mulher de nome Maria que, dizem, veio interceder pelo lado negro da força e os esotéricos segredaram que ela já existia desde sempre e era uma borboleta. Por isso, até hoje, disse que as borboletas são a presença de Maria quando estamos lutando com Darth Vader. O anjo está até hoje morrendo de dor de cotovelo por que apesar dos esforços em mandar tudo que é desgraça para o lado humano da vida, desde chocolate mofado até crack desencarnado, as coisas dão certo no geral. Dizem que a mania de Adão acreditar e ter inventado um desvio chamado Esperança. A cobra... Que cobra? Não apareceu nenhuma! Dizem que a culpa foi dela enfeitando a maçã com sedutoras cores vermelho brilhante. Que escolha mais boba! Com tanto fruto mais suculento e saboroso, escolheu logo a maçã! Essa história de cobra foi pura invenção. Outra mania a que Adão aderiu: sempre encontrar um bode expiatório para as asneiras cavalares que faz. Com a permissão do senhor cavalo que é lindo e tão certinho que até seu cocô é redondo e não faz sujeira espalhada. O senhor Pai está lá feliz da vida com sua criação, tanto que lá pelas tantas chamou um anjo e provocou, provocou até o coitado cair em desgraça e perder o luminoso nome de Lúcifer se transformando em Satanás. Mas não foi por mal não, foi por amor, a vida seria coisa tão chata quanto o Paraíso se não houvesse um pouco de pecado por aí. O sal da vida, que sem sal só serve para quem tem pressão alta. Vana Comissoli

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