segunda-feira, 14 de outubro de 2013

CONFESSO QUE APRENDI - Contigo

Aprendi... A ouvir os passos da noite sentindo os pés no chão. A jogar no fogo os véus do pudor infecundo. Aprendi contigo que podemos pensar que não somos deste mundo. Somos pássaros, astronautas, filósofos e artistas, mesmo quando a vida nos chama de ilusionistas. Aprendi que mão na mão, é carinho. Não tem idade, nem feição. Do cume de altos montes, teus braços ao céu erguidos, joguei à fome dos inválidos, minha vergonha já mastigada. De todo o suco, amputada. Joguei aos porcos, o chorume dos repolhos podres, com que me alimentei, depois de me teres ensinado a cor do sorvete derretido e dentro da tua boca, sorvido. Aprendi que a noite também é dia. O dia, na noite se esconde, quando o cansaço sacia o desejo do meu corpo no teu. Aprendi que rir alto, não faz mal. Traz inebriante alegria nas brincadeiras de nós, crianças, para sempre baldias. Tu me trouxeste, em grandes braçadas, o despertar da vida latente que em mim, só ardia. Brasas que eram a perderem-se no cinza graúdo de meus dias. Gosto de chocolate amolecido, terra de sal e de azeite, nas dobras de teu aconchego me mostraste. Ostras, calamares, cogumelos bravios, ondas dos sete mares. No meu ventre derrubaste. Em vestido de festa, transformaste a nudez de meu seio. A sisudez, o aviso, o não faça, liquefizeram-se na tua risada escarlate. Da cor de teu coração que, entre beijos, me doaste. Nos porões, os ratos ainda gemem, soam seus ruídos mesquinhos. Não são ratos, meu bem, mas passarinhos. Recolheste assim, meu medo em abraços. Refeita e nua, reconheço a vastidão do que me deste. Doce, tropical, ardente, a visão onipresente da vida em mim pulsando. Te confesso, aprendi, a amar tudo aquilo que vivi. O bem e o mal, a hora boa e a hora torta, o conchavo e o concílio. Te confesso, em ti, eu vivi. Se partires, pela porta entreaberta, hei de chorar, estou certa, mas não lamentarei nem sequer a saudade que amargarei porque o vivido jamais será esquecido. Meu peito, amornado para sempre, te carregará, preciosa dádiva, inesquecível presença, das ousadias que ousei. e do amor que roubei Vana Comissoli

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